"Eu gostava quando a ingenuidade e a inocência me tapavam os olhos. Porque é que teve que vir uma tal de realidade para os abrir?
Passam dias, meses, anos. Acontecem muitas coisas boas. Mas porque é que as más, que acontecem antes e depois, são sempre mais intensas? E, normalmente, duram sempre mais tempo também. Há quem diga que é para darmos valor às coisas realmente boas. Mas eu não acredito nisto.
Quando acontecem coisas más, nós criamos defesas, aprendemos a controlar impulsos e expectativas, ganhamos medo. E, depois, são essas mesmas defesas, ausência de impulsos e esse medo que, não raras vezes, nos fazem afastar as coisas boas ou, pelo menos, não as vivermos com a mesma intensidade com que vivemos as más. Onde é que entra o valor?
Eu gostava de ser criança, naquela altura o maior problema que eu podia ter era a professora ralhar comigo por eu não ter feito os trabalhos de casa.
Crescer tem sinónimos como maturidade, responsabilidade, metas, estratégias e mais uma quantidade de palavras complicadas.
O que eu gostava mesmo, mesmo era de poder construir um meio-termo: poder ser hoje a mais responsável e madura e, amanhã, andar a brincar às escondidas pela casa e ter alguém que cuide de mim.Mas, infelizmente, já não tenho companhia para jogar às escondidas e, muito menos, quem cuide realmente de mim.
E agora, àqueles que me perguntam “o que é que te aconteceu?”, aqui têm a resposta: cresci!
Deixei de acreditar no mundo cor-de-rosa que pintava, já não acredito que as coisas más só acontecem aos maus, já não defendo que amanhã vai ser um dia melhor e, muitos menos, que uma gargalhada é a melhor terapia.
Hoje, agarro-me a tudo o que conquistei, às poucas pessoas realmente boas que conheci, aos momentos em que fui feliz e torno-me forte.Essa força ajuda-me a continuar a crescer e a construir, possivelmente, algo melhor."
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